Como usar Freud na redação? Esta é uma aula especial que o Prof. Raphael Reis fez para que os alunos possam sofisticar a argumentação na redação.
Freud é um dos pensadores mais importantes da humanidade e, portanto, é um autor coringa que pode ser utilizado em diversos temas de redação: comportamentos, agressividade, violência, artes, cultura, etc.
Assista à aula e veja como aplicar as reflexões de Freud na redação:
Modelo de Redação de como usar Freud na Redação
A normalidade própria ao nosso tempo é a doença
Tema cobrado pela FCC no TRT9
Modelo de Redação:
O psicanalista Vladimir Safatle faz uma reflexão crítica sobre a sociedade contemporânea: para ele, trata-se de um contexto em que comportamentos patológicos são estimulados como fundamentais para perpetuação do modelo social. Nesse sentido, embora seja impossível imaginar uma sociedade sem sofrimento, a atual supervalorização da produtividade em detrimento da vida subjetiva aprofunda sentimentos de insuficiência e desalento.
Em primeiro plano, a tendência humana para se organizar em coletividade traz a necessidade de renúncias às vontades pessoais. A esse respeito, Sigmund Freud, pai da psicanálise, afirma, em “O Mal-Estar na Cultura”, que a vida em sociedade pressupõe que os indivíduos reprimam pulsões e desejos em favor do respeito às normas socialmente construídas. Assim, para a psicanálise, a vida coletiva presume um “mal-estar”, o qual acompanha o sujeito durante toda a existência na forma de sentimentos de incompletude.
Entretanto, o sofrimento psíquico assume características específicas e extremamente nocivas no mundo atual. Isso ocorre porque se vive sob a demanda constante por produtividade e excelência em todos os campos da vida, de modo que o sujeito passa a ser valorizado exclusivamente pela sua dedicação ao trabalho e pelo seu sucesso material. Nesse sentido, tal cenário é analisado pelo pensador Byung-Chul Han, para quem se vive a “Sociedade do Cansaço”, ou seja, um contexto no qual a dedicação laboral é exigida de forma tão intensa que não sobra ao indivíduo tempo para repouso e para o lazer, resultando em exaustão crônica e problemas psicológicos, como ansiedade, depressão e síndrome de burnout.
Portanto, a análise de Safatle é profundamente pertinente. Se, de um lado, a incompletude e o mal-estar fazem parte da vida em sociedade, de outro, a contemporaneidade transforma o sofrimento psíquico em motor para a produção de valor, sucesso e produtividade, tornando a doença a normalidade típica do nosso tempo.
Comentários:
Um tema delicioso e, ao mesmo tempo, bem complicado! O texto motivador é assinado pelo psicanalista e professor Vladimir Safatle, discutindo sobre a tendência contemporânea de considerar comportamentos patológicos não apenas normais na atualidade, mas como essenciais para o funcionamento da sociedade nos termos em que ela se apresenta. Vamos partir exatamente do pensamento exposto no texto motivador para deixar o texto bem amarradinho com a demanda da banca! Quanto mais difícil você achar o tema, mais recomendável fazê-lo!
No primeiro parágrafo, apresento a reflexão de Safatle e a tese, que dialoga precisamente com o pensamento exposto: afirmo que, embora não seja possível viver sem sofrimento, atualmente há a valorização de atitudes que podem ser consideradas patológicas. Assim, vou dividir o texto da seguinte forma: a) discutir sobre o sofrimento inerente à vida em sociedade; e b) discorrer sobre a situação da modernidade que coloca a doença como normalidade.
Meu primeiro argumento mobiliza o pensamento de Sigmund Freud (particularmente relevante nesta redação, visto que Safatle é um psicanalista). A partir da obra “O Mal-Estar na Cultura”, disserto sobre a necessidade de reprimir pulsões e desejos na vida em sociedade, o que resulta em sentimento permanente de incompletude. Assim, fundamento a ideia de que sofrer faz parte da vida coletiva.
Já no segundo argumento, avalio o cenário do sofrimento psíquico típico da modernidade, afirmando que a demanda excessiva por produtividade causa prejuízos aos indivíduos. Nesse esteio, cito Byung-Chul Han, referência perfeita para essa discussão, uma vez que, para ele, a “Sociedade do Cansaço” tem como consequência justamente a generalização de “doenças neurais” (para usar o termo do filósofo), a exemplo das citadas ao final do parágrafo.
A conclusão é curta e bastante refinada: inicio-a reiterando o pensamento de Safatle citado na introdução e recupero as ideias centrais – a incompletude típica da vida coletiva e o cenário particular de sofrimento psíquico da atualidade –, concluindo justamente que a doença é a normalidade do nosso tempo.