A invenção de necessidades para dar sentido a vida social
Você está estudando para os concursos da CGU, TJDFT, ou algum certame organizado pela banca FGV? Está treinando redações? Deveria…
A banca FGV está com uma pegada filosófica delicinha! Fiz modelo de redação sobre um tema bem interessante: “invenção de necessidades para dar sentido a vida social”
O atual estado da sociedade capitalista é extremamente agressivo para com a população de forma geral. Isso acontece pois, longe de sanar as necessidades e mazelas coletivas, o capitalismo tardio se concentra em ampliar desmedidamente o desenvolvimento e a produtividade econômica, e, para isso, tem que criar novas demandas e convencer os cidadãos a se dedicarem integralmente à máquina produtiva.
A princípio, pode-se dizer que no último século o modelo capitalista assumiu sua forma atual, qual seja: a invenção de novas necessidades para estímulo permanente ao consumo. Nessa perspectiva, o filósofo francês Guy Debord afirma, no ensaio “Sociedade do Espetáculo”, que a criação perene de novas demandas é essencial ao sistema, que não está interessado em acabar com a miséria e a fome, por exemplo, mas sim em manter sua perspectiva de crescimento econômico.
Para além disso, a conversão dos indivíduos a uma vida de produtividade incessante é também uma perspectiva desse modelo de organização social. Essa ideia é desenvolvida pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han: para ele, o capitalismo moderno faz com que as pessoas interiorizem uma “ética do desempenho” e fiquem se cobrando permanentemente para serem mais produtivas. Dessa forma, a ansiedade generalizada em se tornar mais eficaz no trabalho alimenta um capitalismo com perspectiva de crescimento incessante.
Portanto, a invenção de novas necessidades e a introjeção de um olhar vigilante do indivíduo sobre sua produtividade são marcas da sociedade contemporânea. Assim, pode-se dizer que não há solução sob a completude desse sistema, sendo necessário deslocar as conquistas que o capitalismo proporcionou para a solução das mazelas coletivas e a oferta de maior bem-estar à população, reduzindo a roda da produtividade que gira a todo custo.
Comentários sobre a redação a invenção de necessidades para dar sentido a vida social
A redação acima obedece rigorosamente à estrutura do gênero dissertativo-argumentativo, dividindo-se nas suas partes tradicionais: introdução (apresentação do tema e tese), desenvolvimento (argumentos bem fundamentados) e conclusão (retomada da tese). Para além disso, a FGV exige reflexões mais profundas e filosóficas na fundamentação, bem como análise crítica. O senso comum deve ser evitado e a formulação das próprias ideias é encorajada.
Na introdução, apresentei o tema já indicando problemas inerentes ao sistema atual. Em seguida, apresentei claramente os dois pontos escolhidos para o desenvolvimento.
No segundo parágrafo (primeiro argumento), afirmo que a invenção de necessidades é uma característica do capitalismo atual. Para validar meu argumento, invisto na alusão ao filósofo Guy Debord, o qual discorre precisamente sobre este ponto em seu ensaio seminal, “A Sociedade do Espetáculo”. Aqui, desdobro a questão da “produtividade a todo custo” em detrimento da possibilidade de resolução dos problemas comuns.
No terceiro parágrafo (segundo argumento), aponto o fato de as pessoas estarem permanentemente buscando ser mais produtivas. Mais uma vez, atendendo às expectativas da banca, utilizo um filósofo para endossar meu ponto de vista: o contemporâneo Byung-Chul Han, cujo livro “A Sociedade do Cansaço” trata justamente da demanda capitalista pela produtividade ilimitada, resultando em exaustão crônica da sociedade.
Por fim, na conclusão, retomo os pontos fundamentais da tese e dialogo com um dos aspectos mencionados no texto motivador, de que o sistema capitalista tem poucas soluções para seus problemas. Nesse sentido, sugiro o emprego das conquistas do capitalismo em favor da sociedade, resolvendo os graves problemas coletivos e dando maior bem-estar aos trabalhadores.
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